smart link

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A filha é o espelho da mãe



Família
A filha é o espelho da mãe  
A americana Deborah Tannen analisa em livro
as implicâncias freqüentes, e de resultados muitas
vezes explosivos, entre as mulheres da casa  


A fotógrafa Giovanna Nucci, 42 anos, com a filha Michelle Lima, 23 anos: "Conquistamos o equilíbrio certo entre ser mãe, filha e amiga. Mas não é nada fácil"
Por que o relacionamento entre mãe e filha costuma oscilar, na maioria dos casos, entre o amor e a raiva? Essa pergunta intrigava a pesquisadora americana Deborah Tannen, professora do departamento de lingüística da Universidade Georgetown. Para responder a ela, a primeira coisa que fez foi olhar para sua própria relação com a mãe. Gastou nessa análise cinco anos e saiu deles com um livro: Você Vai Sair Assim? – Como Entender a Relação entre Mães e Filhas, que será lançado no Brasil em junho deste ano pela editora Campus/Elsevier. A pergunta do título original, de tom escancaradamente repreensor, foi ouvida pela autora provavelmente algumas dezenas de vezes. Tannen, que está com 60 anos e cuja mãe morreu em 2004, manteve-se durante quatro anos na lista dos livros mais vendidos do jornal The New York Times com uma obra sobre relacionamentos entre homens e mulheres. Esse livro já foi traduzido para 29 idiomas. De Washington, ela concedeu a seguinte entrevista a VEJA.  
Por que a relação entre mãe e filha costuma ser tão complicada e conflituosa? 
Mães e filhas são extremamente próximas. Elas se observam e se analisam num nível intenso. Por isso, acabam enxergando falhas e defeitos que ninguém mais detecta. E se dão o direito de mencioná-los.  
Como assim? 
A mãe quer sempre ver a filha melhorar, seja na aparência, seja nas decisões importantes da vida. A filha, por outro lado, quer ser vista como perfeita. Como as expectativas são distintas, uma acredita que está dando uma demonstração de afeto ao fazer comentários que a outra vê como críticas.  
A senhora diz que mulheres gostam de dividir sentimentos e experiências e acabam falando demais. Isso é um problema para o relacionamento?
Sim. Para as mulheres, a conversa funciona como uma cola que mantém as relações unidas. E isso é arriscado. Quanto mais se fala, maior a possibilidade de dizer algo errado. Entre mãe e filha, o risco é ainda mais presente, já que tudo que é dito tem um peso enorme.  
A competição é um dos componentes que tornam a relação tão explosiva?
Às vezes, sim. Mães e filhas podem competir para ver quem é a mais atraente, a mais bem-sucedida, a mais bem vestida. A mãe pode sentir inveja de ver a filha ter oportunidades que ela própria não conquistou. Também pode acontecer de a filha sentir que não está obtendo realizações à altura das conquistadas pela mãe. Isso ocorre em muitos aspectos, da forma de se vestir à maneira de educar os filhos.  
Quais são os piores erros cometidos por mães e filhas em suas conversas?As mães oferecem conselhos, sugestões e ajuda que não foram solicitados. E as filhas tratam as mães com insensibilidade e desumanidade, modos que certamente não usam com outras pessoas.  
É possível não encarar os comentários das mães como críticas ou palpites fora de hora?Esse é um grande desafio. Ambas precisam perceber que cuidados e críticas caminham juntos. Aconselho as mães a seguir um mantra: não aconselhe, não critique. E sugiro que as filhas interpretem os comentários de forma mais leve. E, diante de um que pareça desagradável, pergunte o que a outra quis dizer antes de tirar conclusões negativas e precipitadas.  
Qual postura adotar quando a mãe opina sobre os netos e o genro?
Nunca responder no nível do comentário. Não deixar a discussão render. É preciso manifestar a insatisfação e dizer que esse comportamento só as distancia. Às mães, aconselho morder a língua e só manifestar opiniões quando solicitadas.  
O relacionamento melhora quando a filha tem os próprios filhos?
Não necessariamente. Mas há um ponto positivo, que é a mudança de foco da filha para os netos. Nessa fase, mãe e filha deixam de ser o tema de todas as conversas. A filha admira a experiência da mãe com a maternidade e a mãe se sente útil, envolvida na vida da filha.  
Durante a pesquisa para o livro, o que mais a surpreendeu nesse relacionamento? 
O número de vezes em que ser parecida com a mãe ou diferente dela entrou na pauta. Ambas tentam se achar na outra incansavelmente.  
Qual o papel do pai nessa relação?
A mãe tende a ver a ligação entre seu companheiro e sua filha com ressentimento. Ela se sente excluída, o que é muito doloroso para as mulheres.  
Como o pai deve se comportar?
É importante não descartar a preocupação da mãe. Ele nunca deve dizer "deixe para lá", "não sei por que você entra nessas discussões com ela" ou "esqueça, isso não é nada". É fundamental que ele expresse simpatia, compreensão e preocupação. Outra sugestão é não se posicionar na defesa de uma delas.  
Por que a senhora nunca teve filhos?
Eu poderia dizer que as circunstâncias da vida não permitiram. Mas a verdade é que nunca realmente quis. Quem consegue entender os desejos humanos?  

Nenhum comentário:

Postar um comentário